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Este microbook é uma resenha crítica da obra:
Disponível para: Leitura online, leitura nos nossos aplicativos móveis para iPhone/Android e envio em PDF/EPUB/MOBI para o Amazon Kindle.
ISBN: 978-65-5535-833-9
Editora: Planeta do Brasil
O eu que somos verdadeiramente pode ser destruído pelos eus que não somos. Por isso, é importante sair em busca de si. Uma das pistas do nosso eu está em nossos sonhos.
São eles que nos fazem chegar à nossa definição. Sonhos amadurecem, mas não prescrevem. Mas vale distinguir sonhos de ilusões. Os primeiros se relacionam com o eu mais profundo, enquanto os segundos dialogam com o ego.
A pergunta “é possível saber quem sou?” cruzou séculos da história da epistemologia do ser e não tem resposta simples,mas, parte da solução da questão, pode estar em Deus.
As busca por Deus e por si não são distintas. É se conhecendo que se conhece Deus, e vice-versa. A espiritualidade é o desdobramento da religião que mostra que Deus está onde as pessoas estão realizadas.
Somos seres metafísicos, capazes de ir além do materialmente dissecado. A intuição humana exige a busca pelo que está além do alcance dos olhos. Essa visão é uma herança das narrativas míticas da antiguidade e da filosofia ocidental.
O ímpeto para conhecer a si ganhou corpo com Aristóteles e os filósofos gregos. A busca filosófica por sentido é natural e acontece sempre que procuramos nomear pensamentos e sentimentos.
Fábio de Melo enfatiza que a filosofia está acima de tudo. Entretanto, na busca pelo eu, a moderna neurociência também tem um papel importante. Por isso, o estudo do cérebro ajuda na investigação de si.
Afinal, “eu” e “mente” são conceitos que se fundem. O mistério se mantém ao perceber que, ao examinar cada parte do cérebro, é impossível localizar onde mora o eu.
Se a neurociência envolve cérebros explorando outros cérebros, na filosofia temos mentes investigando o ato de pensar. O “eu” é uma evolução no conceito do “ser”. Ainda assim, o conceito só passou a ser plenamente estudado com René Descartes.
O filósofo francês defendia que mente e corpo eram de naturezas distintas. No entanto, a neurociência evoluiu o entendimento de Descartes ao mapear a mente como parte do cérebro.
O centro da psicologia é o eu. A terapia serve para solucionar conflitos em si mesmo. Ainda assim, a existência do eu não é consumada na psicologia. O substituto dos psicólogos para o eu é o “self”, trabalhado pelo psiquiatra Carl Jung.
Embora o eu não tenha comprovação científica, todos o experimentamos de forma incontestável. Alguns, como o neurocientista Oliver Sacks, defendem não só a existência de um eu, e sim de vários.
O eu foi alvo de vários debates e polêmicas ao longo da história, apesar de sua existência. Nós o experimentamos e sentimos. Todos nós sabemos a diferença entre o eu e o outro.
Cada ser humano tem um núcleo que não muda e é fiel a si. Autenticidade é o traço de quem se relaciona com o eu substancial e deixa o eu acidental em segundo plano.
Todos estamos condenados a escolher. Estamos limitados pelo tempo e pelo corpo, o que torna as decisões necessárias. Encontrar o eu substancial passa por conhecer os papéis que surgem como fruto das nossas escolhas.
Um eu acidental é a roupagem que segue a necessidade da época. Porém, pode ser consequência dos papéis que os outros atribuem para nós. Quanto menos nos conhecemos, mais suscetíveis ficamos a eles.
O eu substancial também é influenciado pelos conselhos dos outros. Uma parte de si encontra o autoconhecimento como um reforço promovido pelo entorno. Contudo, alguns conselhos negam e dissociam nossa essência.
Ainda assim, os incorporamos graças à fragilidade emocional. Uma pessoa pode ver outra sem enxergá-la de fato. Por isso, oferece um eu que não corresponde à sua verdade pessoal.
Um exemplo de eu imposto é o que desincentiva o nosso lado mais frágil, em chavões como “homem não chora”. Isso faz com que um eu acidental frio tome o lugar do eu substancial.
Às vezes, o eu substancial pode encontrar uma vazão violenta ao ser suprimido. Buscar a essência de si é desafiador. Em alguns casos, exige enfrentar as versões de si impostas pelos próprios pais.
O início da vida é marcado pelos limites, o que faz com que os pais tenham um papel central na formação do eu. No entanto, a criação de filhos é uma tarefa exigente e tem seus próprios desafios.
Às vezes, os pais oferecem aos filhos eus que os negam. Isso gera erros, já que escolhas condicionadas não são livres. Muitas vezes, os próprios pais agem condicionados pela criação que tiveram.
É preciso aprender a lidar com os próprios limites. A fragilidade humana não pode ser superada. Mesmo atletas precisam se submeter a limites físicos. Embora o ser humano seja sublime, tem seus limites emocionais.
O autor enfatiza que viver dói, desde o nascimento. Os primeiros momentos são pautados por contrações. A vida começa com as limitações e a vulnerabilidade máxima do recém-nascido.
O autor diferencia “indivíduo” de “pessoa”. “Indivíduo” é impessoal, sem distinção. Já “pessoa”, é único. Nascemos indivíduos, sem capacidade de perceber a diferença entre si e o outro.
Ao crescer, nos vemos como seres únicos capazes de cuidar. Por isso, nos reconciliamos com a própria fragilidade, nos abrimos para o amor e nos tornamos pessoas.
O eu depende da vida social e das experiências com o outro. O entorno pode ajudar na travessia de indivíduo para pessoa. Ainda assim, as mudanças da sociedade tornaram o mundo menos disposto para as relações.
Surgiu uma indisposição para vínculos exigentes. A contemporaneidade trouxe o estilo de vida dos condomínios e criou obstáculos à intimidade. Contudo, a busca por privacidade não pode reforçar a indisposição à vida social.
Já passamos da metade deste microbook e o autor nos revela que o início da vida é marcado pela individualidade e pela fragilidade. Os recém-nascidos são incapazes de distinguir entre si e o outro. Só que, em algum momento, o eu se declara único.
A partir daí, percebe-se como apenas parte do universo, em vez de ser o centro dele. O autoconhecimento é a porta de entrada para desvendar a estrutura que traz a consciência de si.
Alguns saberes são intuitivos. O eu está na categoria deles. Entretanto, ao encontrar um eu, os outros são rejeitados. A busca por si é relacional e está pautada na interação com as pessoas e com o mundo.
Por isso, os eus acidentais podem ser trazidos pelos outros e sua influência pode afastar ou aproximar você da sua verdade pessoal. Chegar ao ser que somos envolve dificuldades e contribuições.
A essência do eu é uma busca “maiêutica”, uma ideia de Sócrates em que a verdade seria alcançada por meio de perguntas e respostas. Assim, o autoconhecimento é estimulado pelos outros.
Nesse sentido, a interação com o outro também deve ser questionada. Esse movimento é chamado pelo autor de “pastoreio do eu”, porque o eu cuidando dos seus relacionamentos é como um pastor tutelando suas ovelhas.
Pastorear é o mesmo que cuidar. Em nossa vida, existem “vozes pastoras”, de pessoas que nos influenciam como os pastores fazem com as ovelhas. Essas vozes vêm das autoridades afetivas.
Jesus, por exemplo, é a voz pastora de seus seguidores. Ainda assim, na vida, temos exemplos familiares. Uma avó pode ser a autoridade afetiva de uma neta. O pastoreio do eu passa também pela voz do próprio coração.
A voz do coração é o centro do ser. Por isso, só é possível fazer uma boa investigação de si com honestidade. O autor recorre às diferenças aristotélicas de essência e aparência para concluir que somos essencialmente humanos.
Por isso, passíveis de limites e de um desenvolvimento lento. Como uma semente se torna a árvore que essencialmente é, todas as pessoas precisam se tornar o que essencialmente são.
Embora tragamos nossa essência, somos influenciados pelo meio em que vivemos. Por isso, não é só sobre ser, mas sobre vir-a-ser o que realmente somos e assumir nossa verdade pessoal.
Algumas pessoas contribuem para o desvelamento do eu. Assim, a essência começa seu desabrochamento. Para isso, é preciso iniciar o embate diário com o mundo que rejeita a autenticidade do eu.
Antônia, leitora de Fábio de Melo e filha de um pai superprotetor e explosivo, teve seu eu como mulher suprimido pela figura paterna. Por influência do pai, não desenvolveu vaidade ou relacionamentos românticos. Quando ele faleceu, Antônia ficou perdida.
Sua vida foi devotada ao pai e ela nunca havia encontrado a essência de si. O autor se recorda de que o erro do pai ao suprimir o eu da filha foi fatal, com Antônia cometendo suicídio pouco tempo depois.
Ainda que Antônia confessasse seus problemas a Fábio de Melo antes de seu suicídio, nunca chegou a culpar o pai. Para ela, o pai tinha responsabilidade, mas não culpa.
O erro foi enxergar a filha como extensão de si. O autoritarismo deixa marcas principalmente no cerne da liberdade. Para o autor, só se é verdadeiramente livre quem se livra da necessidade de agradar.
A sociedade pós-moderna incentiva pessoas dispersas e superficiais. Isso é fruto das exigências da pressa. Nesse novo arranjo, os encontros entre pessoas ficaram fragilizados.
O capitalismo e a pressa reduziram o espaço para o cultivo da vida espiritual. As pessoas se tornaram estranhas a si. Muito materializadas, pouco espiritualizadas. Em vez de escutar suas próprias necessidades, fazem compras para disfarçá-las.
As estatísticas de suicídios são assustadoras e parte da razão do fenômeno é a rejeição do eu pelo outro. É o caso da homofobia, uma causa comum de suicídio. Às vezes, pautada em ideias cristãs.
Fábio de Melo enfatiza que não existe nada nos evangelhos que justifique o ódio às minorias. Para ele, as pessoas que justificam intolerância com cristianismo estão longe de entender a proposta cristã.
O discurso religioso pode ser perigoso. Isso acontece porque, em alguns cenários, os líderes religiosos subentendem que há mais sabedoria neles do que nos fiéis. Deus passa a ter um mediador.
O autor defende que a religiosidade não pode ser castradora. Afinal, é possível conhecer Deus olhando para dentro de si, sem depender de mediação. A religião não pode negar nosso eu.
A hipocrisia de alguns discursos religiosos é explicada pela dificuldade de reconhecer a fragilidade humana. Isso é surpreendente, já que é dela que se fortalece a experiência religiosa.
Existe na religiosidade um “pessimismo antropológico”, a sensação de não ser um nada diante de Deus. No entanto, para o autor, não é preciso se desmerecer para considerar Deus grande.
Às vezes, para esconder nossos erros e fragilidades, lançamos mão de máscaras e disfarces. Isso vai desde um discurso moralista até a dissimulação. Contudo, ao esconder a própria indigência, o religioso reforça a descrença de si próprio.
O problema é que isso prejudica a fé em Deus. É difícil ter fé sem acreditar em si. Afinal, para acreditarmos em Deus, é preciso crer que Deus também acredita em nós.
Os medos nunca nos deixam, embora possam ser administrados. Às vezes, se manifestam por disfarces como agressividade. O medo também pode ser fruto de eus acidentais.
Ao se manter próximo da própria essência, torna-se mais fácil lidar com situações amedrontadoras. O medo do abandono não assumido, por exemplo, pode levar a um eu imposto ciumento.
O processo terapêutico ajuda na consciência de si. No entanto, o convívio social nos incentiva a ser reativos em vez de reflexivos. Isso exclui o espaço para o amadurecimento do eu.
O processo terapêutico reúne na sala os vários eus. Essa sala precisa estar sempre iluminada para distinguirmos os eus que nos pertencem e os que devem ser rejeitados.
Encontrar a si mesmo dá trabalho. É preciso se livrar dos eus acidentais e das imposições colocadas pelos outros. Para os que têm coragem para encarar a busca da própria essência também encaram a busca por Deus. O livro do padre Fábio de Melo mostra como a procura filosófica pela verdade pessoal pode levar a uma vida mais realizada.
Conhecer seu eu também pode passar por saber seus talentos naturais e os traços que precisam ser reforçados. Você pode conferir o microbook “Descubra Seus Pontos Fortes”, em que os autores revelam especificamente como descobrir suas fragilidades e as habilidades nas quais é bom.
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Padre Fábio de Melo tem formação em filosofia, teologia, e educação. Explorou a carreira de professor universitário, escritor e cantor, além de expandir a e... (Leia mais)
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